Obra de professora da FMUSP explica as variantes do zumbido auditivo

Por Verónica Oliveira / USP Online

Escutar um barulho parecido com um tatu cavando um buraco, um comprimido efervescente se desfazendo na água, ou outros ruídos parecidos pode ser um sintoma daquilo que a médica otorrinolaringologista Tanit Ganz Sanchez, professora da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), chamou em seu recém lançado livro - Quem disse que zumbido não tem cura? - de “um som que não está ao nosso redor, mas sim que nasce dentro da via auditiva”. Ou seja, o zumbido. No livro, a via auditiva é explicada como sendo uma seqüência de estações por onde um trem (som) precisa passar para chegar a seu destino (cérebro). Os sons entram na via auditiva e percorrem seis estações: ouvido externo, ouvido médio, ouvido interno, nervo auditivo, tronco cerebral e cérebro.

"Quem disse que zumbido não tem cura?" faz um balanço de tudo o que Tanit vem, desde 1994, estudando, pesquisando e conhecendo na prática através do atendimento a pacientes que sofrem desse mal. “Ouvindo algumas histórias extremamente tristes de alguns pacientes, acabei me envolvendo com o sofrimento deles e passei a estudar o zumbido como minha linha de pesquisa dentro da FMUSP”, conta a professora.

Tendo em vista que os resultados das pesquisas desenvolvidas sobre zumbido são praticamente direcionados para outros profissionais da área, e não para o público em geral, Tanit sentiu a necessidade de complementar a parte que faltava para esse público através da obra que acaba de lançar, que tem linguagem bastante acessível: “desse modo, sinto-me agindo de maneira mais ampla nessa proposta de disseminar os conhecimentos que adquiri nesses 12 anos de estudo”.

Segundo a autora, embora o livro tenha sido escrito para o público compreender mais sobre o zumbido, ele será muito útil também para qualquer profissional. A obra, para a médica, ajudará no atendimento de futuros pacientes. Conforme explica Tanit, o zumbido é um sintoma - e não uma doença específica. “Isso quer dizer que ele é como se fosse uma febre ou dor de cabeça, podendo ter uma ou várias causas juntas por trás”, enfatiza. Por outro lado, o zumbido não tem uma idade determinada para afetar as pessoas, podendo aparecer em qualquer idade, inclusive nas crianças.
Mas geralmente é mais freqüente na terceira idade. Uma das coisas que deixa a professora - criadora o Grupo de Apoio a Pessoas com Zumbido (GAPZ) em 1999 - otimista é a modificação que detectou na forma em que o zumbido é visto pelas pessoas. Tanit garante: “os profissionais estão mais motivados a estudar o zumbido e a tentar formas de tratamento diversificadas. Os pacientes, por outro lado, estão buscando mais ajuda, pois lêem sobre o assunto em várias fontes de informação”. Quem disse que Zumbido não tem cura? conta também com depoimentos verídicos de pacientes que se curaram do mal com tratamentos diferentes.

O importante, de acordo com Tanit, é saber que o tratamento que leva à cura é diferente de pessoa para pessoa, mas sempre direcionado às causas que foram identificadas durante a avaliação médica. Ela sugere que o paciente procure um otorrino para fazer uma avaliação minuciosa antes de tirar qualquer conclusão precipitada. A professora explica que o título da obra pretende alertar para o grande erro de considerar todos os pacientes com zumbido como 'semelhantes'. Há uma enormidade de causas diferentes que podem estar combinadas de diversas maneiras em cada paciente.

Portanto, “o tratamento sempre vai depender da(s) causa(s) de zumbido de cada pessoa. Se existem algumas causas que são curáveis, outras que são parcialmente controláveis e outras que são irreversíveis, não é justo que todos os casos de zumbido sejam rotulados de maneira negativa e englobados sob as frases ‘zumbido não tem cura’, ‘não há nada que possa ser feito’ ou ‘você vai ter que aprender a conviver com isso’ e outros ” diz.

Depoimento da Dr. Tanit Sanchez sobre Zumbido! Confira abaixo:

"Durante minha formação na Faculdade de Medicina da USP e minha
residência médica em otorrinolaringologia no Hospital das Clínicas, fui
aprendendo tudo o que podia com pessoas mais experientes do que eu.

Entretanto, quando eu atendia pacientes com zumbido, dificilmente
encontrava quem tivesse segurança para me orientar sobre esse assunto.
Logo percebi que poucos profissionais se sentiam à vontade para falar
sobre o assunto, pois na época eram bastante comuns as idéias do tipo
“zumbido não tem cura”, não há nada que possa ser feito para ajudar” e
“não adianta investir no tratamento do zumbido.

Essa impressão causou-me uma grande frustração por não conseguir ajudar
adequadamente os pacientes que pareciam sofrer tanto... Portanto, esse
foi o pontapé inicial, minha primeira e maior motivação para fazer um
estágio sobre zumbido fora do Brasil, em 1995, quando obtive
importantes conhecimentos que trouxe para cá.

Comecei a estudar e a aplicar tudo o que havia aprendido,
principalmente sobre a investigação das principais causas do zumbido.
Isso ajudou a diminuir o sofrimento de uma pequena parcela da população
que nos procurava, mas ainda não era suficiente. Na época, talvez eu
abordasse o zumbido apenas do ponto de vista físico, sem me dar conta
de que havia outros fatores.

Com o tempo, passamos a receber novos pacientes cada vez mais
incomodados. Essa foi a segunda motivação para ampliar a abordagem
médica, aumentando minha percepção dos problemas emocionais que podiam
provocar ou piorar o zumbido. Com esta estratégia mais ampla (física e
emocional), conseguimos controlar o zumbido de mais pacientes. Ainda
assim, isso não era suficiente, pois parecia que o grau de sofrimento
dos novos pacientes que procuravam ajuda pela primeira vez aumentava à
medida que o tempo passava!

Então, incrementamos ainda mais a abordagem do paciente,
complementando os pontos de vista físico, emocional e espiritual do
zumbido, dentro das condições de vida e de conhecimento de cada um.
Somando esta abordagem tripla, finalmente começamos a ter mais sucesso
no tratamento de um problema em que muitos otorrinolaringologistas
realmente ainda não investem, pois acham que não há muito para ser
feito.
Aprofundando o estudo sobre zumbido ao longo dos anos, nunca
pensei que fosse entrar em contato com o corpo humano por inteiro, já
que várias doenças de outros órgãos podem refletir no ouvido. Hoje
tenho a impressão que existe todo um universo por trás do zumbido
esperando para ser desvendado... e certamente ainda temos muito para
aprender!

Acredito que aprender e transmitir esses conhecimentos são duas
tarefas que fazem parte da minha missão. Sempre tive uma grande vontade
de transmitir esperança para as pessoas que sofrem com o zumbido,
mostrando que realmente existem coisas para serem feitas. Só que essas
coisas não são sempre as mesmas para todos os pacientes... é importante
que o tratamento seja personalizado para as necessidades de cada
paciente. Portanto, para conseguir realizar essas tarefas, iniciamos
algumas ondas de propagação dirigidas a profissionais - por meio de
cursos e palestras sobre zumbido – e outras dirigidas ao público com
zumbido, por meio do GAPZ (Grupo de Apoio a Pessoas com Zumbido),
folhetos informativos, entrevistas e de livros como este. Também
trabalhamos para que o dia 11 de novembro seja considerado o ‘Dia
Nacional de Conscientização sobre o Zumbido’, que será uma outra grande
onda de propagação de informações úteis ao público.

A idéia central do livro "Quem disse que zumbido não tem cura?" é mostrar à população com zumbido a enorme variedade de causas e opções
de tratamento. Quanto mais se investiga as possíveis causas de zumbido
de cada paciente, mais o tratamento pode ser direcionado para as
necessidades de cada um, aumentando a chance de sucesso. Além disso,
informar-se adequadamente sobre o zumbido faz muita diferença: quanto
mais você conhece o seu problema, mais você se tranqüiliza e se
equilibra, garantindo sua qualidade de vida.
Conhecimento faz bem para
qualquer pessoa, e este também é um dos propósitos de tudo que fazemos.
Espero que vocês aproveitem!"


Nota do blog:

A doutora Tanit Sanchez é médica otorrinolaringologista formada pela USP;
Professora Livre-Docente da Faculdade de Medicina da USP; Chefe do
Grupo de Pesquisa em Zumbido; Criadora e Coordenadora do GAPZ (Grupo de
Apoio a Pessoas com Zumbido).



O livro "Quem disse que zumbido não tem cura?" foi lançado pela Dra. Tanit Ganz Sanchez para comemorar pela primeira vez o Dia Nacional de Conscientização sobre Zumbido, em 11 de novembro de 2006.

Ambos fazem parte de uma onda de propagações de novos conceitos mais otimistas em relação ao zumbido.
O livro foi escrito com linguagem acessível para que o público geral e os profissionais possam entender melhor o assunto. Além disso, contém inúmeros depoimentos de pacientes que atingiram a cura com alguma das formas de tratamento.

O livro pode ser adquirido nos seguintes locais:

- Livraria Saraiva, clique aqui para visitar o site. - reuniões mensais do Grupo de Apoio a Pessoas com Zumbido (http://www.zumbido.org.br/)